Existem tanto em matemática quanto em
física, além dos axiomas e postulados, as hipóteses, as teorias, as definições
e os princípios. Em matemática, tanto o postulado quanto o axioma são
proposições indemonstráveis das quais se parte para construir um arcabouço
lógico. Eles podem ou não ser evidentes. Alguns diferenciam axioma de postulado
dizendo que o postulado é evidente, enquanto que o axioma não. Mas ambos não
são deduzidos. No entanto, em vários casos, postulados podem ser verificados
através de, por exemplo, visualizações gráficas (e são evidentes nesse
sentido), enquanto que axiomas não. Os seguintes exemplos devem esclarecer
essa distinção. Considere o chamado "princípio" do terceiro
excluído em Lógica Bivalente Clássica, que pode ser formulado da seguinte
maneira:
(P v ¬P) -> Ou P ou não P.
Essa proposição
molecular (duas proposições reunidas através do conectivo disjunção) pode ser
entendida como um postulado. Ela é evidente a partir da comparação do que ela
mostra com os valores de verdade contidos nas tabelas de verdade. Com isso,
pode-se averiguar que ela é satisfeita para os valores de verdade da tabela.
Todavia, ela ainda não é demonstrada. Ela é uma proposição necessariamente
verdadeira, dadas as considerações que a precedem que também são consideradas
como verdadeiras e não demonstráveis. Mas ela pode ser verificada. Um axioma,
por outro lado, pode ser concebido como algo mais geral, não decomposto em nada
mais elementar. Segundo o dicionário inglês de Oxford, etimologicamente,
entende-se por "axioma" o seguinte: "adotado do axiome francês,
adaptado do latino axiōma, adotado do grego ἀξίωμα, que
é considerado digno ou adequado; que é auto-evidente." O seu significado
é: "Uma proposição auto-evidente, que não exige demonstração formal para
provar sua veracidade". Para o termo "postulado", temos,
etimologicamente: "adaptação do latim postulātum (uma coisa) exigida
ou reivindicada, uma demanda, solicitação [...]". Seu significado é:
"especificamente em Geometria (ou uso derivado). Uma reivindicação para
tomar como certa a possibilidade de uma operação simples, por exemplo, que uma
linha reta possa ser traçada entre dois pontos; um problema simples de natureza
auto-evidente: distinto do axioma (um teorema auto-evidente)". Dadas essas
considerações, o próximo exemplo deve esclarecer isso. Considere o
seguinte axioma e o seguinte postulado:
Axioma: "Para todo natural x, x=x" ou "(x)(Nx & x=x)", em que Nx := "x é um número natural".
Postulado: "Dado uma reta e um ponto fora dessa reta, existirá apenas uma reta que passará por esse ponto e que seja paralela à primeira reta".
Nesse caso, o
postulado pode ser graficamente visualizado, para nos assegurarmos de sua
veracidade, mesmo que ele não seja demonstrado formalmente (nesse caso, ele
seria apenas mostrado). Mas ainda é necessariamente verdadeiro. Enquanto o
axioma não necessita ser visualizado graficamente, sendo auto-evidente. Mas
como discutido anteriormente, no caso do postulado, podemos decompô-lo de
alguma forma, que nesse caso, fica explícito ao considerarmos os conceitos de
"reta", "ponto" e representá-los graficamente. Finalmente,
há a consideração de que um axioma seja uma verdade auto-evidente (entendendo
aqui que verdade é um predicado, na forma v(X), em que X é outro predicado,
sendo portanto, um argumento que a função toma). Já uma proposição tem a forma
seguinte: P(x), em que por exemplo, x=nome, em que os argumentos da função são
constantes individuais. Expressando que tal proposição é verdadeira, tem-se:
v(P(x)). Finalmente, gostaria de mostrar mais um exemplo da distinção de axioma
e postulado e finalizar com alguns comentários. Considerem o seguinte axioma
associado aos números naturais:
Axioma:
A+B'=(A+B)'.
Em que o " '
" representa a função "sucessor de x (se x=3, então seria
x+1=4)". Agora, considere o seguinte postulado:
Postulado:
A+(B+1)=(A+B)+1.
O axioma nesse
caso, é mais geral e abstrato (em sua formulação) do que o postulado, que é
evidente. Essa função descreve então, falando num geral, a ordenação dos
números naturais de tal forma que podemos trabalhar com eles. Ao aplicar a "função verdade" ao argumento A+B'=(A+B)', temos v(A+B'=(A+B)')=V, considerando a verdade como predicado como anteriormente expresso, o que mostra que o axioma em questão é auto-evidente (agradeço as
considerações do meu amigo Dário Carvalho por me chamar a atenção sobre a distinção de
axioma e postulado).
Princípio é
uma proposição afirmativa não verificada empiricamente, isto é, não se induz
princípios através de observações e experimentos, mas sugere-se por raciocínio,
de modo que se pode deduzir leis através deles. Se as leis então, forem
verdadeiras, os princípios são válidos. Assim é o princípio da Incerteza de
Heisenberg ou o Princípio da ação mínima pelo qual se obtém as equações de
Lagrange e Hamilton. Definições podem ser entendidas de várias formas.
Talvez em
Matemática e Física, quando falamos em "definição" (definição de
carga, energia, plano, número etc), falamos no sentido de delimitar a
aplicabilidade de um termo. E isso pode ser feito expressando um juízo que
determine um predicado que esse termo goza, em termos conceituais, em que todas
as tipificações possuirão também. Por exemplo, ao se definir
"energia" em termos de um certo predicado x, para identificarmos se
energia potencial, cinética e outras são realmente "energia", devemos
ver se podemos expressar tais termos associando-os ao predicado contido no
conceito de "energia". Mas também, para expressar univocamente e
delimitar a aplicabilidade de certos termos, em Física, expressa-se por meio de
símbolos e suas relações, que seguem algumas regras e operações conhecidas
dentro de alguma teoria de matemática, geometria, topologia ou outras. Tais
símbolos geralmente estão associados à alguma propriedade identificada na
realidade natural.
Por outro lado,
além disso, uma definição pode ser entendida como uma expressão da essência de
algo (definir seria dizer o predicado que algo contém e que sem tal predicado,
deixa de ser algo). Além disso, tem-se a questão de intensionalidade,
extensionalidade, semelhança por gênero e diferença específica, definição em
termos de determinar todas as notas constituintes de um conceito etc. Por
exemplo, dizer que um círculo é redondo (um juízo analítico), você realmente
não está definindo círculo, pois existem outras "coisas" que são redondas
e não são círculos. Mas trata-se do conceito de círculo. E dizer que um
círculo é quadrado é um absurdo, pois pela própria definição de “círculo”, ele
não pode ser quadrado, pois “quadrado” já tem outra definição diferente da de
“círculo”.
Além disso, é
importante comentar que nem todos os conceitos em Matemática poderão ser
"definidos", pois não haverá como delimitar a aplicabilidade de
certos termos. Por exemplo, o conceito de "reta" é expresso em termos
de outro conceito, que é o de direção. E o conceito de direção é expresso em
termos do conceito de reta. Assim, não é possível expressar uma definição de
tais termos. Não há como delimitá-los univocamente, isto é, rompendo com essa
circularidade existente (de deixar um conceito expresso em termos de outro).
Tais conceitos, assim como o de ponto, plano e outros, são ditos
"conceitos primitivos".
2 comentários
Muito bom! Excelente artigo.
Explicação curta e precisa. Mto bom!
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